3 de out. de 2012

Desamor-próprio


Você tem esses olhos inchados de quem pede desculpas e asilo, embora não os faça com a boca. E, em falar em boca, essa que sibila sua história declamada pelos seus olhos. Olhos d'água.
Água do choro, água de espelho, espelho d'água - reflete a frágil dicotomia que te monta.
Você não é paradoxo, é contradição. Cenho duro e traços finos. Coração grande e vazio. Madureza e verde, crua. personalidade sua... e minha.

Fala entusiasmada e se engasga com palavras que não sabe o que significa, e só as fala por as achar bonitas. E estaríamos juntas.
Tem esse jeito de representante de classe falida, escola pública da vida, que falta carteira, material, professor. Falta vontade. Você me queria.
Ri de verdade, mais por querer parecer ser de verdade do que a verdade do riso. Se preocupa com detalhes, corte, postura, linguagem. Dos outros, se preocupa em ser a favorita. Você se perdeu.
Esforço comovente, é esse que faz, em romantizar tudo que te cerca. Eterna anti-cinderela, anti-herói e nem quer saber se tem o hífen naquilo que constrói. Você se destrói. Você me queria e você se perdeu. De mim.
E quem sou? Sou a sua amiga paladina, sou o que você fala ser mas não é. Sou o escondido dos seus lábios, o enterrado nos teus versos. Sou você, sou o seu relicário. De tão preciosa, eu não me abro. Canto riquezas, mas não me acho. Sou a promessa, nunca a tarefa. Sou o norte embora não me siga. Você me segue?
Somos feito sol e lua que brincam de pega-pega, ansiando pelo dia do eclipse. Concordamos que eu seria o satélite, que ilumina sem queimar, já que você dá câncer. Não lamurie: sou habitada enquanto você continua indomável, estrela – potência.

Eu já te ouvir dizer que me ama e eu correspondo. Mas o completar de nossas faces já saiu de moda, não acontece. Eu te quero, mas não posso esperar. Você corre com suas pernas tortas, cambaleia, tropeça nas suas próprias pedras.

Eu estou longe, do outro lado da órbita. Assim você não me alcança.  

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