Você esteve no meu primeiro dia e eu no seu último. Seria uma troca justa se não tivesse sido tão cedo.
E tão cedo hoje levanto e tão cedo me arrependo. Olho pro lado, e tão logo percebo que estou onde nós combinamos onde estaria. Minha silhueta cabe perfeitamente no buraco que deixou em nossas vidas.
E não tão rápido me arrumo, claro, me arrasto e quando me faço, digo pro espelho o tão próximo eu me pareço daquilo que menos almejo.
E quando tão longe estou, no teu lado eu vejo, no meio da ponte, encolhida, bom a bolsa contra o peito, e é claro que percebo: estou mais um dia a mais distante.
Esqueço. Adormeço.
E tão lúcida, em sonho, conversamos. E nos choramos. É real porque a dor, desse mundo, transportamos. Eu falo que cada sentimento que amadureço é um milha além daquilo que eu conheço e isso tem um preço.
E tão quão longe manda eu trilhar, com a vista cansada, daqui, já não consigo te enxergar. E cada obstáculo que venço é um degrau que desço da escada que eu tento fazer como elo dos nossos momentos. Acabou nosso tempo.
E por mais que eu peça desculpas - e você me desculpa - ainda não posso deixar de me culpar: não conseguirei nunca o perdão por ter desperdiçado o quarto mais significante de nossa linha já que os outros três serão de só saudade.
E cada quarto que entro sem te ver lá, aumenta o espaço vazio entre as mobílias de minhas experiências. Por mais que a minha casa esteja, agora, toda decorada, ainda terá a infiltração da parede que será como erva daninha em minha felicidade que não importa quantos quadros eu pendure: sempre será uma rachadura no meu sorriso.
Por mais que tudo que eu tenha, a ti te dedique: conquistas, minha filha, meu diploma. Os meus textos, minha pele, meu eterno estado de coma. Nisso, nada soma. Sempre estarei em débito por aquele um quarto sem mérito e por todo esse drama.
59 anos e uma saudade que sufoca
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