3 de abr. de 2013

Anatomia


Você tem os olhos mais tristes de um rosto bonito.
Seus olhos são líquidos com um arredondado desapontado, como de quem muito chora.
São a parte mais vívida, eletrizante, aprisionados dentro de um glóbulo em sépia.

Seus cabelos têm o cheiro do outono e as cores do passado.
Você os conserva em um corte desigual para passar a impressão de modernidade.
Quando caem sobre seus ombros, me passam a certeza da sua ambiguidade.

Você tem pernas que não se medem, que não têm contorno. 
São como escadas que nunca chegam ao topo,
Suas pernas provocam a vontade traiçoeira de te alcançar.
A voz sai como um sussurro que é para ofender. 
O fio que se equilibra suas palavras faz com que nós tenhamos que inclinar a cabeça,
voltando nossos ouvidos como se fossem olhos para ver o reflexo da alma.

No mimetismo do reino animal, 
aprendeu a figura de menina, só porque tem idade, 
quando é de sábia anciã que lhe monta o espírito.

Sua beleza é clássica e notória.
Sua sutileza é comovente.
O sorriso que se desfaz quando vira de lado é confirmação.

Um dia, quando eu ainda não te entendia ,
disse que somos resultado dos dramas que nos cercam.
Você só me assentiu. 
Hoje, com esses assobios de sermão, 
você me conta: 
Você é as escolhas certas e doídas da luta.

Prometi te transformar em poesia, 
só não disse que ficaria bonita.
Essa é a anatomia da sua graça.
Você é muito bonita.

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