Você tem os olhos mais tristes de um rosto bonito.
Seus olhos são líquidos com um arredondado desapontado, como de quem muito chora.
São a parte mais vívida, eletrizante, aprisionados dentro de um glóbulo em sépia.
Seus cabelos têm o cheiro do outono e as cores do passado.
Você os conserva em um corte desigual para passar a impressão de modernidade.
Quando caem sobre seus ombros, me passam a certeza da sua ambiguidade.
Você tem pernas que não se medem, que não têm contorno.
São como escadas que nunca chegam ao topo,
Suas pernas provocam a vontade traiçoeira de te alcançar.
A voz sai como um sussurro que é para ofender.
O fio que se equilibra suas palavras faz com que nós tenhamos que inclinar a cabeça,
voltando nossos ouvidos como se fossem olhos para ver o reflexo da alma.
No mimetismo do reino animal,
aprendeu a figura de menina, só porque tem idade,
quando é de sábia anciã que lhe monta o espírito.
Sua beleza é clássica e notória.
Sua sutileza é comovente.
O sorriso que se desfaz quando vira de lado é confirmação.
Um dia, quando eu ainda não te entendia ,
disse que somos resultado dos dramas que nos cercam.
Você só me assentiu.
Hoje, com esses assobios de sermão,
você me conta:
Você é as escolhas certas e doídas da luta.
Prometi te transformar em poesia,
só não disse que ficaria bonita.
Essa é a anatomia da sua graça.
Você é muito bonita.
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