19 de jan. de 2011
18 de jan. de 2011
Queda
Só quando se anda com suas próprias pernas é que se tem saudades do tempo de deficiência. A estrada é tortuosa e dá preguiça, por mais que haja a euforia de não ser mais cadeirante. Como doem meus pés.
E nesses momentos aperta e minimiza lá dentro. E de tão pequeno que fica se esconde. Entra. Nunca mais acha, perde. E por não estar à vista, morre, padece. E é como se nunca houvesse existido. Extingue-se. Deleta-se. Eu não lembro. Do que estava falando? Nunca estive.
Mas, por um momento. Por uma fração. Por um raio cortante que tinge no meio do céu. Pelo bater das pálpebras, volta a bater, estender, expandir. Existir. E volta. E é como se nunca houvesse saído do lugar. Ele está lá e nunca foi embora. Fui eu quem esqueceu? Meus pés voltam a doer. Meus olhos também. Eu fico, porque o cheiro é muito gostoso. Eu assisto, porque a queda é algo lindo.
Cair é como voar só que para baixo. Cair é penetrar numa depressão no meio do oceano com a vantagem de não perder o ar. Não lhe falta o ar. Aliás, cair é quando mais se respira, e por viver tão intensamente em uma queda, você morre. Não pelo encontro de seu corpo com o chão e sim por viver demais. Viver tudo. Querer tudo... inclusive o chão.
Morrer por queda é morrer feliz. Morre-se beijando seu último desejo. Cair é um capricho.